Postado Por : Jahovia Yabil sábado, 31 de agosto de 2013


Mais cedo ou mais tarde, boa parte dos livros chilenos que tratam de futebol acabam se deparando um pouco ruborizados com a questão quase metafísica que é buscar uma justificativa para o escasso sucesso do país em campo. O Chile é relativamente abastado para os padrões sul-americanos, tem uma população superior, por exemplo, à do Paraguai e do Uruguai – países mais presentes em disputas por títulos – e, principalmente, os chilenos gostam do esporte tanto quanto os vizinhos mais vitoriosos. Há teorias das mais diversas. Alguns citam a corrupção dos antigos gestores do futebol como causa de atraso, mas por lá não se experimentou algo muito diferente dos coirmãos continentais; há quem acredite que a ligação de alguns dos principais clubes com as universidades teria mantido o esporte elitizado por mais tempo do que em outros lugares, fechando as portas para craques em potencial. Às vezes, se conclui simplesmente que falta raça e vergonha na cara, o que pode ser tão plausível quanto as outras hipóteses.

Uma das teses famosas sobre a questão é a de Luis Álamos, que jogou na Universidad de Chile por quinze temporadas e mais tarde seria um aclamado treinador, chegando a comandar a seleção nacional na Copa do Mundo de 1974. Para ele, havia uma relação direta entre o folclore de um país e o espírito de sua gente, que se refletiria no futebol. “A cueca, dança nacional chilena, é lenta e monotemática. Enquanto isso, o Brasil tem samba lento e samba rápido, o tango argentino é um constante cambio de dirección, os bailes da Colômbia têm vivacidade e soltura…”. Tivesse ou não razão em sua teoria, é no mínimo curioso que a equipe mais marcante montada por Álamos ficasse conhecida justamente por uma alcunha que remete à dança: no longo período entre 1957 e 1966, ele esteve à frente da Universidad de Chile, e foi o responsável por construir a melhor formação que o clube já viu, eternizada nos anos 60 como o BALLET AZUL – um apelido inspirado no poderoso Millonarios de Bogotá da década anterior.

Sob o comando de Álamos, e mesmo nos anos subsequentes à sua saída, La U se tornou a base da Seleção Chilena que disputou a Copa do Mundo em casa (chegando às semifinais, no que foi a melhor campanha do país até hoje) e empilhou títulos domésticos. Até as temporadas sem taça, como a de 1963, foram temperadas com jogos que ganharam mitologia própria. Em fevereiro daquele ano, os universitários bateram o Santos de Pelé, recém consagrado campeão do mundo pela primeira vez, por 4 a 3 num amistoso em Santiago. Dois meses mais tarde embarcaram para uma excursão por Europa e África, que incluiu resultados como o 2 a 1 sobre a Internazionale em Milão e o 3 a 2 diante do Botafogo de Garrincha no MARROCOS. No meio disso, em março, La U enfrentou a rival Católica pela final atrasada do Campeonato Chileno de 1962, vencendo por 5 a 3, garantindo o título e uma assustadora média de três gols por partida na competição (105 gols em 35 jogos).

http://www.youtube.com/watch?v=WpWT-2vht0c

Depois da decisão, os dirigentes do clube levaram o plantel para celebrar numa certa Taberna Capri, que na época era o lugar dos BOÊMIOS CHIQUES de Santiago. Exaustos do jogo, os atletas não tinham qualquer interesse nos canapés oferecidos pelos garçons de gravata-borboleta engomada. Preferiram matar a sede causada pelo esforço físico virando taças de vinho e copos de uísque como água. Por volta das quatro da manhã, com o elenco mais alto que o pico do Aconcágua, a fome finalmente bateu. Já não havia comida sobrando, mas os diretores não queriam prejudicar o clima de festa e mandaram TRAFICAR uns sanduíches de carne assada do bar mais próximo. “El Tanque” Carlos Campos, o maior artilheiro da história do clube, que fazia parte daquele time, costuma lembrar o episódio em tom de anedota – “estábamos tan borrachos y teníamos tanta hambre que a los dirigentes les dio miedo de que nos los comiéramos a ellos”.

E no entanto o Ballet Azul não ergueu taça alguma além de títulos nacionais. Foi fácil ver a Universidad de Chile de Jorge Sampaoli acumulando resultados absurdos – de julho de 2011 para cá, o time disputou 58 partidas e só perdeu três – e pensar que se trata do melhor time de todos. Mas os próprios universitários tiveram outras equipes repletas de estatísticas geniais que não puderam sair do chão quando cruzaram os Andes. No Chile, depois do Ballet Azul, fracassariam ainda as grandes esquadras do Colo Colo e da Unión Española na década de 70, o Cobreloa dos anos 80, a Católica e outra vez La U dos anos 90. Nos anos 2000, o Colo Colo foi o primeiro time chileno a vencer quatro campeonatos nacionais consecutivos e nem esteve cotado para erguer a Libertadores. Já na década de 1960, o Chile era o único país do continente (ao lado da Colômbia) que havia se classificado para a Copa do Mundo e nunca havia conquistado um título internacional expressivo, fosse entre clubes ou seleções – e o grupo de países com participações no Mundial era vasto, só excluía Equador e Venezuela.

Quando os colombianos do Atlético Nacional venceram La Copa em 1989, dois anos antes do Colo Colo, o Chile se tornou também o último país desse grupo a fazer algo. A sequência de insucessos estendeu a maldição para o Estádio Nacional de Santiago. Ele era o palco preferido para os desempates da Libertadores em campo neutro, não apenas por ser gigantesco e relativamente próximo dos países finalistas, mas também porque os chilenos não costumavam estar na final – só o Peñarol foi três vezes campeão da América ali, e apenas em uma delas enfrentou um chileno. Hoje, contando as decisões envolvendo equipes locais ou não, o Nacional já sediou onze finais de La Copa. Em nenhuma delas a taça ficou no Chile. Ironicamente, quando o Colo Colo se sagrou campeão da Libertadores em 1991, a decisão foi jogada no Estádio Monumental. E provando que algo doído apunhala os chilenos, mesmo aquela conquista foi ofuscada de leve pela frustrante fraqueza do Albo no Mundial, levando 3 a 0 de um Estrela Vermelha que jogava com dez desde os 42 minutos do primeiro tempo.

 Mais recentemente, na decisão da Copa Sul-Americana de 2006, novamente uma derrota difícil de aceitar teve lugar no Estádio Nacional. Daquela vez, o Colo Colo havia empatado no México com o Pachuca, vencia o jogo de volta até o intervalo e deixou virar no segundo tempo. É por isso, talvez até mais do que pela invencibilidade e o futebol envolvente, que a conquista da Sul-Americana pela Universidad de Chile causou tanta comoção em 2011. Não somente se rompiam os vinte anos de penúria do futebol chileno, como também, incrivelmente, era a primeira vez nos 73 anos de história da cancha em que um título continental era vencido por um time local ali dentro. Em Santiago, quem não está comprometido com os rivais de La U, não se refere ao time como mero vencedor da Sul-Americana, e sim como el campeón de América. Mas eles sabem que a consagração definitiva está na Libertadores. Ao longo dos tempos, muitos times se candidataram a melhor quadro chileno da história. Pouquíssimos, no entanto, se mostraram tão confiáveis quanto a Universidad de Chile atual, que já mostrou força e permaneceu constante, chegando pela sexta vez na semifinal da Libertadores em 2012 e novamente batendo na trave, porém o sonho continua.

O fabuloso hino do clube, escrito por estudantes de arquitetura da universidade durante uma viagem de BARCO para o norte do país em 1933, dá uma resposta que os torcedores gostariam que fosse para essa pergunta. Formulados certamente em estado de ebriedade, os versos falam em ser un romántico viajero, que deve ir “mais além do horizonte”, como todas as ilusões que gostamos de acalentar no futebol e fora dele. Mas a estrofe que conquista para valer as simpatias em relação à causa de La U é outra, que fala de amor, e garante que a única contemplação possível da realidade vem através de um DESNUDO DE MUJER (?), uma estrofe que precisa concluir este e qualquer outro texto mesmo sem ter relação com o que foi dito.

Ser un romántico bohemio
cuyo ensueño es el querer
ver las amadas ya olvidadas
y dejadas al pasar
y en desnudo de mujer
contemplar la realidad

Brindemos, camaradas, por la Universidad
en ánforas azules de cálida emoción
Brindemos por la vida fecunda de ideal
sonriendo con el alma prendida en el amor

Fonte - Maurício Brum, impedimento.org

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Qual tem sido o problema da La U?

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